9 de novembro de 2011

Edu Falaschi: nova entrevista sem papas na língua

Edu Falaschi, vocalista das bandas ANGRA e ALMAH, cedeu mais uma entrevista sem papas na língua, dessa vez o veículo escolhido foi o Brasil in Metal, o vocalista voltou a criticar os fãs que deixam de ir á shows e não compram CDs originais. Leia a entrevista completa.






Brasil in Metal: Edu, você atua ativamente de diversas formas no metal nacional e mundial há tempos. Em relação ao cenário brasileiro do rock e metal: existe alguma grande mudança desde quando você começou até os dias atuais? Se sim, qual?


Edu Falaschi: Bom, a principal mudança é que antigamente não tinha internet, e as pessoas interagiam entre si! Hoje é tudo muito virtual, tanto pro bem quanto pro mal, as pessoas preferem ficar com a bunda na cadeira em frente do computador vendo os videos dos shows e baixando as músicas das bandas e aí postando seus comentários e conclusões baseadas só no que se vê e ouve pelo computador! Uma pena, porque essas pessoas não fazem ideia de como é legal a energia de um show, o contato pessoal com seus ídolos e a sensação de comprar um disco, pegá-lo, abri-lo, ler as letras etc. O público ausente disso tudo não entende que existe uma troca, o artista faz um trabalho no qual ele acredita, gasta dinheiro e tempo, se dedica, para que, em contrapartida, as pessoas que se identifiquem com aquilo e que se tornem fãs deem seu apoio comprando os discos e indo aos shows, para que seu artista possa continuar a fazer músicas, discos e shows.


Não existe uma via de mão única na música. Não tem como um artista ficar fazendo discos, investindo, as gravadoras gastando, os produtores de shows gastando e, no fim das contas, os fãs só quererem ter os mp3 de graça, ficar assistindo os shows pelo YouTube e comentando sobre uma coisa que eles nem mesmo fizeram parte. Acontece o que está acontecendo: as bandas autorais acabando ou só trabalhando no exterior, alguns artistas indo fazer outra coisa e os shows de bandas cover e internacionais cada vez crescendo mais e a preços absurdos e as pessoas pagando o preço que for para vê-las! Eu também gosto de ir em shows internacionais, sou fã de várias bandas, mas, como está, não dá mais. Que fique claro que eu não falo do Angra, pois ainda fazemos shows com ótimo público, e muitos fãs de verdade ainda compram os nossos CDs. Eu reclamo em nome das outras bandas e de toda a cena, um movimento não se sustenta com uma ou duas bandas realmente fortes.


Brasil in Metal: Qual é a maior “ajuda” que o metal nacional recebe, na sua opinião?


Edu: De alguns fãs que ainda compram o CD original e vão aos shows. Um pouco de algumas mídias especializadas, mas que, ainda assim, priorizam sempre as bandas internacionais. É só você ver quantas matérias de capa você vê de banda gringa e de bandas nacionais! Não chega nem a 1%. É raro acontecer, mas às vezes rola.


Brasil in Metal: Muitos músicos brasileiros reclamam sobre a posição dos fãs em relação às bandas nacionais. Você acha que existe um preconceito contra o metal brasileiro dentro do próprio país? Quais motivos você atribui a esse preconceito?


Edu: Existe uma tendência no Brasil que tudo que é daqui é ruim. Concordo que o Brasil está mesmo atrás em vários aspectos sociais, políticos e econômicos, mas discordo em dizer que não existe banda de qualidade aqui, tem várias bandas com músicas legais e ótimos músicos. As bandas que precisam evoluir não têm nem mesmo a chance de crescer porque não tem público nem apoio de grande parte da mídia. Eu sempre digo que o apoio e crescimento vêm de dentro pra fora e não o contrário; vou dar alguns exemplos.


Quando o Grunge surgiu em Seattle, nos EUA, ele apareceu com bandas de garagem que começaram a tocar nos clubes locais e aí foi crescendo o público local, que eram pessoas de Seattle, que iam nos shows das bandas de Seattle. O movimento cresceu, os shows eram cheios, e então apareceu um empresário que vislumbrou lucro com aquilo tudo e lançou algumas bandas mundialmente, e isso se tornou uma tendência mundial. No hard rock foi a mesma coisa nos EUA. Na Inglaterra, o punk virou moda de dentro pra fora, as bandas enchiam seus pubs, o público lotava os pequenos bares e aí algum empresário resolveu apostar e difundiu isso para o mundo. No final do movimento punk, surgiram algumas bandas de metal.


O Iron Maiden, por exemplo acreditou no seu som e começou tocar na Inglaterra, nos bares locais, o público metaleiro começou a lotar os seus shows e de outras bandas de metal locais. O movimento cresceu internamente, e o público “LOCAL” fez com que todo aquele movimento chamasse a atenção de alguns empresários, que investiram no estilo, e então isso foi exportado para outros países.


Enfim, posso ficar dando milhares de exemplos aqui que todo movimento cresce INTERNA E LOCALMENTE.


No Brasil, a coisa é inversa no metal, você precisa fazer sucesso no exterior para, aí, os brasileiros começarem a dizer: “olha só, os caras são sucesso no Japão, essa banda é foda”. Portanto, eu sempre vou defender a teoria de que precisamos muito dos fãs locais para encherem os shows de metal das bandas locais. Sem isso, nunca seremos um país relevante no mundo do rock, seremos sempre lembrados pelos estrangeiros como um país que lota os shows para ver suas bandas, mas que nunca foi capaz de mostrar ao mundo bandas além do Angra, Sepultura e Krisiun. Isso em mais de 30 anos. Não é uma vergonha? O Brasil precisa comparecer! Ninguém é obrigado a gostar de nada, mas eu tenho certeza que temos pelo menos dez bandas que são altamente capazes de fazer boa música e de criar um imenso fã-clube local, é só terem uma chance.


Brasil in Metal: Já há um tempo, o produtor e atual vocalista do Shaman, Thiago Bianchi, vem levantando uma bandeira a favor do “Dia do Heavy Metal Nacional”. Você vê a instituição deste dia como algo que realmente estimularia os fãs a consumirem mais do rock e do metal nacional?


Edu: Eu esperava que sim! A intenção foi ótima, talvez não foi realizado num bom dia, mas minha reclamação não é pontual, só pelo show do dia do metal. É geral, pois praticamente nenhum show de metal nacional dá público, salvo algumas exceções como Angra e Sepultura. E, mesmo assim, essas também tem seus dias relativamente fracos. Mas o problema é cultural, vai demorar a realmente mudar, mas temos que começar a nos mexer de alguma forma, certo? Pior não tem como ficar! Se piorar, aí acaba de vez!


Brasil in Metal: Você considera que o download de múscias pela internet é totalmente maléfico para as bandas, ou você vê um lado positivo nele?


Edu: A Internet tem o lado bom e ruim. Mas acredito que o lado maléfico é maior, mas isso não é pela internet em si, ela é só um instrumento que é utilizado pelas pessoas para em sua maioria propagar a discórdia, mentira, ódio, ofensa e a maldade. O ser humano, em sua essência, tem a tendência de ser atraído por notícias ruins e polêmicas. É muito mais fácil falar mal do que bem, isso é notório. Por que você acha que os jornais são basicamente compostos de notícias ruins? Porque isso dá “Ibope”, simples assim.


Brasil in Metal: Recentemente, você foi altamente criticado pelas suas performances junto com o Angra, mas foi igualmente protegido e elogiado dentro do mesmo assunto. Qual foi o aspecto mais positivo, se é que você viu algum, dessa “polêmica” que foi gerada, e qual foi o aspecto mais negativo?


Edu: Eu só resolvi abrir o jogo com meu público e ser honesto com eles e comigo mesmo. Só tem o lado positivo nisso tudo, vou me tratar, vou voltar a cantar como sempre fiz no inicio do Angra até o Temple of Shadows, vou dar ao público o que eles esperam de mim e é isso aí. Não sou nem o primeiro nem o último cantor a ter problemas com a voz. Eu sempre fui considerado um artista polêmico: é que, no Brasil, você ser direto e honesto se torna corajoso e polêmico. Essa merda de ter que ser sempre “politicamente correto” está destruindo o mundo, porque não se pode mais falar nada, fazer nada, falar de uma ideia é praticamente uma heresia. Vivemos uma ditadura invisível e que está amordaçando a autenticidade.


Brasil in Metal: Qual ou quais as principais mudanças que você vê como necessárias para que o metal nacional cresça e dê maiores condições para bandas que surgem no cenário underground de todo o país? De quem elas devem partir?


Edu: As mudanças devem partir de vários lados, as bandas têm que gravar em bons estúdios, procurarem bons produtores para que sua musica seja acrescida de novas ideias e qualidade, também devem ser mais originais. As casas de shows de pequeno porte devem investir mais em equipamentos, para que se tenha o mínimo de qualidade possível, as bandas e o público merecem isso. Não adianta só pensar no lucro e em vender bebidas no bar, tem que investir em equipamentos e valorizar a própria casa, o púbico têm que comprar os CDs das bandas que ela gostar e, se curtir os CDs, que compareçam aos shows para apoiá-las e se divertir! E a mídia especializada tem que realmente apostar em novos artistas, dar matérias relevantes e de peso, e não só um pequeno espaço, como se fosse um favor. Com essas mudanças de comportamento, talvez o metal cresça bastante ao ponto de chamar a atenção de grandes empresários e se tornar um mercado ativo na economia brasileira. O Wacken, no Maranhão, pode ser um grande passo!


Brasil in Metal: Edu, muito obrigado pela conversa e grande abraço para você. Deixe seu recado para os leitores e fãs do metal nacional.


Edu: Muito obrigado a todos vocês pela oportunidade, e muito obrigado a todos aqueles que entenderam a minha indignação. E peço desculpas a aqueles que se sentiram ofendidos, mas eu prefiro chutar o balde e pecar pelo excesso do que viver na falsa e confortável segurança que a omissão proporciona!




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